Saúde & Bem Estar

A IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO E DIAGNÓSTICO DO CÂNCER DE MAMA EM TEMPOS DE CORONAVÍRUS

O rastreamento é parte integrante do paradigma de atendimento ao câncer de mama. De acordo com os fatos e números 2019-2020 da Prevenção de Câncer da American Cancer Society, as mamografias de rastreamento ajudaram a reduzir as mortes por câncer de mama em cerca de 20%, devido à detecção e tratamento precoces. O relatório também observa que 4 a 6 cânceres de mama são detectados para cada 1.000 mamografias de rastreamento.

Mas em meio à pandemia global da COVID-19, o acompanhamento e diagnóstico do câncer de mama devem ser discutidos e personalizados, e, segundo vários autores, podem ser postergados (Harold J. Burstein, MD, PhD, do Dana-Farber Cancer Institute, George Sledge, Jr., MD, do Stanford University Medical Center). De acordo com estes autores, “o adiamento faz sentido para a maioria das pacientes sem sintomas e sem risco porque:

1) o intervalo das avaliações é diferente em vários países (com intervalos de 1 a 2 anos);
2) pode reduzir o risco de infecção pela COVID-19 para pacientes e profissionais.

Com os sistemas de saúde comprometidos com o atendimento aos pacientes com a COVID-19, “todos compartilhamos a responsabilidade de ajudar a conter a disseminação e apoiar nossos prestadores de serviços de saúde, principalmente hospitais, na concentração de esforços e recursos para os pacientes que mais precisam de cuidados”.

Seria prudente definir quais pacientes devem manter o estadiamento, a investigação e confirmação de malignidade, quais pacientes com câncer de mama requerem cuidados mais urgentes e quais seriam as práticas mais adequadas e seguras para este público. Apesar de não haver um consenso, muitos grupos importantes têm proposto guidelines: Breast Cancer Research and Treatment, The American Society of Breast Surgeons, Colegio Brasileiro de Radiologia, Febrasgo, Sociedade Brasileira de Mastologia etc.

Segundo a radiologista Ana Paula Miranda Rosati, da Clínica Felippe Mattoso, marcado Grupo Fleury no Rio, de maneira geral, situações como infecção/formação de abscessos correspondem a situações mamárias críticas e que não permitem adiamento de diagnóstico tratamento. “As condições não críticas cujo atraso, entretanto, podem afetar potencialmente o resultado geral/prognóstico e devem ser consideradas incluem: investigação de mulheres sintomáticas (nódulo palpável, fluxo papilar suspeito), biópsias percutâneas de alterações suspeitas nos exames de imagem (categoria 4 ou 5 pelo ACR BI-RADS®), exames para estadiamento locoregional ou sistêmico de malignidade comprovad a, marca ção pré-cirúrgica para cirurgia diagnóstica ou terapêutica, clipagem de tumor para quimioterapia neoadjuvante, avaliação de resposta à quimioterapia neoadjuvante”, ressalta.

Segundo estas orientações, exames de rastreamento em paciente sem risco, seguimento de lesões provavelmente benignas e rastreamento por ressonância e ultrassonografia em pacientes de alto risco sem sintomas poderiam ser postergados para depois da pandemia.

“A principal questão é que ninguém sabe por quanto tempo a pandemia irá interferir nas condutas de triagem, embora a maioria concorde que as limitações persistirão pelos próximos meses. É prudente contrapor que o adiamento de detecção terá consequências quando a pandemia desaparecer e os serviços de saúde também deverão estar preparados”, alerta.

Uma revisão recente da literatura descobriu que atrasos no tratamento do câncer de mama têm menos impacto inicial do que se costuma pensar. Ainda assim, a espera mais longa afeta os resultados finais (Ann Surg Oncol 2018; doi: 10.1245 / s10434-018-6615-2). A revisão constatou que a cirurgia dentro de 90 dias do diagnóstico e 120 dias para a quimioterapia levou aos melhores resultados, tempos que poderiam muito bem ser impactados pela triagem tardia devido ao COVID-19.

Estas consequências ainda não podem ser totalmente mensuráveis, mas a adoção de condutas personalizadas poderia ser reavaliada com base em algumas premissas:

Orientação da paciente sobre os sinais de alerta precoce do câncer de mama. Os sinais podem ser diferentes, as pacientes devem reconhecer o que normal para elas e em alterações na palpação ou aparência devem ter orientação médica antes de decidir fazer ou não o exame.
Condição emocional da paciente.
Avaliar risco da paciente por faixa etária e comorbidades.
Disponibilidade de sites com menor risco de exposição – espaços e clínicas exclusivos sem compartilhamento de pacientes com suspeita da COVID-19.
Centros de solução rápida (“one stop shop”) realização de exames de triagem e complementares em um único atendimento.
Equipe multidisciplinar para discussão dos resultados, avaliação de suspeita e planejamento terapêutico.
Desfecho clínico disponível.

As estratégias adotadas não devem substituir o julgamento médico individual, nem políticas ou diretrizes institucionais, além disso devem ser tomadas no contexto de recursos de cada instituição e prevalência da pandemia da COVID-19 em sua região.

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