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“Uma mulher ao sol”, dia 2 de março, no Teatro Poeirinha, em Botafogo

Com direção e organização dramatúrgica de Ivan Sugahara, o espetáculo expõe sensações e pensamentos provocados por longos períodos de reclusão

Inspirada no livro ““Hospício é Deus”, a peça é também o desdobramento de uma pesquisa artística sobre saúde mental, realizada pela atriz Danielle Oliveira há seis anos

Quais são as relações possíveis de estabelecer entre o confinamento em instituições psiquiátricas e a reclusão experimentada por todos nós em 2020 e 2021 na pandemia de Covid-19? Como ressignificamos a vida em isolamento sem sucumbir à depressão e à melancolia? A partir desses questionamentos, o Projeto Trajetórias (formado pelo diretor Ivan Sugahara e pela atriz Danielle Oliveira) idealizou o espetáculo “Uma Mulher ao Sol”, que volta ao cartaz, no Teatro Poeirinha, em 2 de março, com sessões de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h. A peça se debruça sobre a vida e a obra de Maura Lopes Cançado (1929-1993), escritora mineira, radicada no Rio de Janeiro, que passou longos períodos em manicômios. A montagem estreou na programação da Ocupação Artística sobre a saúde mental “Lugar de Cabeça Lugar de Corpo”, realizada no Oi Futuro de maio a junho de 2022. Em julho, fez sua estreia internacional no Festival de Avignon (França), um dos maiores festivais de teatro do mundo, com ótima repercussão entre o público, além de críticas elogiosas em jornais locais.

Com direção e organização dramatúrgica de Ivan Sugahara, a montagem é construída a partir de fragmentos do primeiro livro de Maura, “Hospício é Deus” (1965). Filha de uma abastada família de Minas Gerais, a escritora veio morar no Rio de Janeiro em 1950. Publicou contos no Jornal do Brasil e no Correio da Manhã e, em 1958, passou a integrar a equipe do suplemento dominical do Jornal do Brasil, ao lado de Cony, Ferreira Gullar, Reynaldo Jardim, Assis Brasil, entre outros nomes importantes do jornalismo e da cultura na cidade. Porém, a instabilidade emocional sempre a levava de volta ao mesmo lugar: o hospício.

Os dois livros de Maura, “Hospício é Deus” e “O Sofredor do Ver”, foram publicados em 1965 e 1968, respectivamente. Com uma narrativa forte e precisa, obtiveram grande reconhecimento de crítica na época, porém sem muito retorno financeiro. Em “Hospício é Deus”, que guia a peça, a autora conta em detalhes uma de suas internações no Centro Psiquiátrico Nacional, localizado no Engenho de Dentro (Rio de Janeiro). A narrativa acompanha desde a sua autointernação, em outubro de 1959, até a saída em março de 1960. No elenco, estão as atrizes Danielle Oliveira e Maria Augusta Montera, que interpretam a escritora e também a si mesmas em um apurado trabalho corporal.

Pesquisa sobre saúde mental

Há seis anos, Danielle pesquisa o tema da saúde mental. Em 2017, idealizou o experimento cênico “Lugar de Cabeça Lugar de Corpo” a partir de relatos de pessoas que vivenciaram a experiência manicomial, como Stela do Patrocínio, Bispo do Rosário, Lima Barreto e Maura Lopes Cançado. O projeto foi realizado até 2019 no Espaço Travessia, centro de arte e cultura localizado no hospital onde Maura esteve internada – atual Instituto Municipal Nise da Silveira – sendo apresentado para usuários e funcionários da rede de saúde mental e visitantes.

“Pouco antes da pandemia, eu e o Ivan já tínhamos decidido trabalhar com a obra de Maura Lopes Cançado. Em 2020 e 2021, durante o isolamento, vivendo no mesmo apartamento, começamos a associar a nossa experiência com a clausura vivenciada por Maura em suas diversas internações. E, assim, começamos a idealizar um espetáculo que reflete muito sobre nossa vivência interior e joga uma nova luz sobre saúde mental”, descreve Danielle. “O espetáculo realça a natureza teatral dos escritos de Maura. Se, durante a pandemia, livros, séries, filmes e músicas foram grandes aliados no enfrentamento da reclusão, Maura também recorreu à arte como forma de subverter o isolamento. Em sua literatura, além de retratar de modo duro a experiência manicomial, ela reflete sobre a própria criação literária e faz inúmeras referências a livros, filmes, peças e óperas. Mais do que isso, parece fazer ficção a partir de sua experiência no hospício, enxergando-se e portando-se como uma personagem”, comenta o diretor Ivan Sugahara.

No espetáculo, o foco está no mundo interior, nas sensações e pensamentos que as atrizes e personagens atravessam ao longo dos dias em confinamento. Daí a opção pelo trabalho com vozes em off, procurando trazer à tona o turbilhão que acontece na intimidade. A visualidade da cena e o trabalho corporal, construído a partir das linguagens da dança, do teatro físico e a mímica corporal dramática, são elementos determinantes da montagem. Danielle tem formação em dança pela Faculdade de Dança Angel Viana, no Rio de Janeiro, e Maria Augusta formou-se em Mímica Corporal Dramática na Ecole Internationale de Mime Corporel Dramatique, em Paris.

“Acreditamos que um espetáculo com foco no trabalho corporal e na visualidade pode transcender a dimensão biográfica da escritora e fazer emergir seus sentimentos e conflitos mais íntimos. O objetivo é a criação de uma dramaturgia cênica vigorosa que evidencie a penosa experiência do confinamento, mas também a intensa vivência interior gerada pela reclusão”, explica Sugahara.

Sobre Danielle Oliveira

 

É atriz e bailarina formada pela CAL e pós-graduada em “Corpo, Educação e Diferenças” pela Faculdade Angel Vianna. Trabalha com teatro no Rio de Janeiro há 12 anos. Trabalhou na Companhia Ensaio Aberto de 2013 a 2016. Integra o grupo de dança Epifania, dirigido por Dani Cavanellas. Pesquisadora da interface entre arte e saúde mental, idealizou a ocupação teatral Lugar de Cabeça Lugar de Corpo, realizado no Instituto Municipal Nise da Silveira e no Teatro Oi Futuro. Em 2020, criou em parceria com o diretor Ivan Sugahara, o Projeto Trajetórias. É idealizadora e atriz do espetáculo “Uma Mulher ao Sol”.

Sobre Maria Augusta Montera

É atriz graduada pela CAL em 2015 e pesquisadora do método psicofísico de interpretação MUSA criado pelo diretor grego Sotiris Karamesinis. Integrante da Cia. MUSA Teatral, trabalhou durante 5 anos como professora de teatro, diretora e dramaturga na ONG Solar Meninos de Luz, e atuou no documentário Happy Princes, premiado 14 vezes em festivais internacionais. Em 2020, concluiu sua formação na École Internationale de Mime Corporel Dramatique, em Paris, e em 2021 participou com seu Projeto Mariposa da residência artística no Instituto Grotowski, na Polônia, onde desenvolveu e realizou um workshop corporal para mulheres. É atriz do espetáculo “Uma Mulher ao Sol”, que estreou em 2022.

Sobre Ivan Sugahara

 

Formado em Teoria do Teatro (UNIRIO), Ivan é diretor teatral e dramaturgo. Já encenou mais de 50 peças em 26 anos de carreira. Recebeu o Prêmio Cesgranrio 2015 de Melhor Espetáculo por “Fala comigo como a chuva e me deixa ouvir” e os Prêmios Qualidade Brasil de Melhor Diretor e Melhor Espetáculo por “Notícias Cariocas” (2004), montagem da Cia. dos Atores que codirigiu com Enrique Diaz. Foi três vezes indicado ao Prêmio Shell de Melhor Direção e recebeu três indicações aos Prêmios Qualidade Brasil de Melhor Diretor e Melhor Espetáculo. De 2013 a 2017, foi responsável pela direção artística e curadoria da Sede das Cias. A ocupação foi indicada aos Prêmios Shell, Cesgranrio e APTR. Dirigiu a cerimônia do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro em 8 edições. É diretor artístico da cia. Os Dezequilibrados, que completa 27 anos em 2023. Em 2020 criou junto com a atriz Danielle Oliveira o Projeto Trajetórias, que desenvolve ações teatrais e audiovisuais.

 

Ficha Técnica

Texto: Maura Lopes Cançado

Direção e Organização Dramatúrgica: Ivan Sugahara

Atuação: Danielle Oliveira e Maria Augusta Montera

Direção de Movimento: Dani Cavanellas

Assistência de Direção: Ana Moura e Beatriz Bertu

Cenografia: Cristina Novaes e Renata Pittigliani

Iluminação: Alessandro Boschini

Figurino: Joana Lima Silva

Trilha Sonora Original: Marcello H

Programação Visual: Luciano Cian

Assessoria de imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)

Fotos: Dalton Valério e Marcelo Valle

Direção de Produção: Sergio Saboya e Silvio Batistela

Realização: Projeto Trajetórias PROJETO TRAJETÓRIAS

Serviço:

Uma mulher ao sol

Temporada: De 02 de março a 30 de abril de 2023

Teatro Poeirinha: Rua São João Batista, 104 – Botafogo – Rio de Janeiro/RJ

Telefone: (21) 2537-8053

Dias e horários:  quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 19h.

Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia-entrada)

Lotação: 41 pessoas

Duração: 1h20

Classificação: 16 anos

Venda de ingressos: na bilheteria no teatro e pelo site Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/80203/d/180207/s/1220024

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